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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A vida secreta de José Serra

Eleições: 15 questões que a mídia deveria investigar

publicada quarta-feira, 20/10/2010 às 12:32 e atualizada quarta-feira, 20/10/2010 às 14:23


Antes de 31/10 o Brasil espera respostas para 15 questões pontuais
Se a imprensa quisesse teria muito trabalho por realizar. Bastaria ver as muitas matérias interrompidas abruptamente, as notícias sem continuidade, as manchetes anunciando que ontem pela manhã, por volta das 5h45m o mundo acabou.

por Washington Araújo, da Carta Maior

Pois bem, se a imprensa quisesse… não precisaria ficar se exercitando qual hamster passeando em sua roda-gigante dentro de sua minúscula gaiola. E também não teria que ficar repetido à exaustão que “tudo está indefinido”, somente com “a abertura das urnas” saberemos alguma coisa (?), “as pesquisas mostram números ligeiramente alteradíssimos”, “os votos do PV não são do PV, são de Marina”, “os votos de Marina não são de Marina são do PV”.
É um festival de coisa morna, que longe de queimar a língua, no máximo lhe faz sentir quão desagradável é a coisa morna, seja leite morno, seja escândalo morno, seja notícia morna. A cobertura da imprensa destas eleições presidenciais se alterna entre o frio e o morno e qualquer calorzinho existente parece nascer do lado partidário da imprensa que mais se autoproclama isenta, independente, acima das ideologias, acima das eternas rusgas entre governo e oposição.
Mas, se a imprensa quisesse teria muito trabalho por realizar. Bastaria ver as muitas matérias interrompidas abruptamente, as notícias sem continuidade, as manchetes anunciando que ontem pela manhã, por volta das 5h45m o mundo acabou. Se preciso tão somente responder, se possível antes do aguardado domingo 31 de outubro, a questões como as que enuncio a seguir:
1. Porque o avanço do tema aborto cruzava o Brasil como se planasse em céu de brigadeiro e, logo após “a publicação do relato de uma ex-aluna da mulher de Serra dando conta de que ela (Monica), em sala de aula, revelou já ter praticado um aborto” o tema desapareceu do noticiário com tal velocidade que até falar da construção da Transamazônica, nos momentos mais dolorosos do governo Médici parece notícia com muito mais cheiro de novidade para este segundo turno que a questão do aborto?
2. Havendo o tema descriminalização do aborto ter se levantado como onda de 11 metros, com a informação de que Monica Serra, mulher do candidato a presidência José Serra (PSDB), teria feito um aborto durante o período em que o tucano viveu exilado no Chile. Partiu de “gente com ficha limpa”: da bailarina e ex-aluna de Monica Serra na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Sheila Canevacci Ribeiro… Cadê o jornalismo investigativo buscando ouvir ao menos mais 5 ou 6 alunas da professora Mõnica, ex-colegas de Sheila Ribeiro sobre o assunto?

3. Porque a simples nota da Assessoria do PSDB negando o aborto da mulher de seu presidenciável ao invés de deixar a onda se acabar na praia não produziu o que se esperaria de uma jornalismo minimamente partidário e independente: aumentar o esforço investigativo em torno do caso, afinal, não era ela que há algumas semanas panfletava em Nova Iguaçu (RJ) bradando que Dilma Rousseff (PT) “é a favor de matar criancinhas”?
4. Porque partiu de um líder católico, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo da antes pacata Guarulhos (SP) a encomenda de 20 milhões de panfletos, com assinatura de sua entidade-mor, a CNBB, com ataques claros e diretos à candidata da continuidade governista Dilma Rousseff?
5. E se em nota a própria CNBB afasta dos lábios sacerdotais o cálice amargo encontrado em Guarulhos… quem teria autorizado a impressão de sua chancela?
6. Como Dom Bergonzini conseguiu levantar tanto dinheiro para ação tão meritória e tão alinhada com as mensagens que há 2.000 anos sopram dos Evangelhos de Lucas, João, Mateus e Marcos?
7. E se não era dinheiro resultante de dízimos e doações de sua diocese, de onde viria tão elevada quantia – cerca de algo entre R$ 600 mil a R$ 800 mil, de que casa bancária, de que conta partidária teria sido debitado a quantia?
8. E em que conta da diocese de Guarulhos teria sido depositada a dinheirama?
9. Paulo Preto, personagem de outro escândalo ligeiramente escamoteado no principal telejornal da tevê brasileira, estaria envolvido com a gráfica demandada por Dom Bergonzini?
10. Quais as ações tanto da Justiça Eleitoral quanto de sua mais operosa agente do Direito, esta que parece trabalhar em três turnos sem qualquer intervalo, Procuradora Eleitoral Dra. Sandra Cureau sobre a impressão desses 20 milhões de folhetos?
11. Porque o governador José Serra considerou “irrelevante” o fato de a dona da gráfica de Guarulhos, segundo o jornal Folha de S.Paulo, além de filiada ao PSDB desde 1991 e se tratar da irmã do coordenador de infraestrutura de sua campanha, Sérgio Kobayashi?
12. Porque um dos lados, sempre que acusa o outro de grossas inverdades, campanhas subterrâneas de desqualificação, quando apresenta a ficha corrida de elementos gestores de uma ou de outra campanha, recebe como resposta padrão adjetivos ou frases curtas como “Irrelevante”, “Factóide”, “Não vai dar em nada(sic)” e fica por isso mesmo, dando-se por saciado o interesse jornalístico?
13. Porque um outro lado, por mais que refute as acusações, apresente dados, relatos circunstanciados, nome e sobrenomes de meliantes, passa a ser visto pela grande imprensa como “informação não confiável”, “ não publicável” ou daquelas que abastecem o extenso rol das “informações jornalísticas a serem sonegadas”?
14. Porque chefes da editoria de Economia & Finanças dos principais jornais e revistas do país não produzem estudos jornalísticos sobre as conseqüências para o Brasil de um salário mínimo rapidamente catapultado para R$ 600,00 – quais as implicações para as contas públicas? quais as repercussões nas contas da Previdência?
15. Porque a grande imprensa não convoca economistas de renome e lhes oferece espaço adequado em seus veículos para publicar suas análises sobre o impacto de um aumento na faixa dos prometidos 10% a todos os aposentados do Brasil logo no primeiro trimestre de 2011? Estaria dentro dos princípios que norteiam a celebrada Lei da Responsabilidade Fiscal?
São pautas para estudante de jornalismo algum colocar defeito. Quem, em sã consciência, não teria interesse de ver a equação da informação fechar de forma redonda e completa? E olha que deixei completamente ao relento a esquizofrênica pauta brandida por presidenciável desejoso de asfaltar formidáveis 4.000 quilômetros da rodovia Transamazônica ligando o Estado da Paraíba ao Estado do Amazonas.
Deixo também às vicissitudes do tempo, chova ou faça sol, a idéia de se construir uma ponte unindo Recife a Fernando de Noronha (545km) ou a opção mais em conta e não menos exótica e espalhafatosa que a construção dessa mesma ponte agora ligando Fernando de Noronha a Natal (340km). Promessas assim só servem para uma coisa: engrossar o folclore político e populista do Brasil.

Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,  Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email – wlaraujo9@gmail.com

sábado, 16 de outubro de 2010

Um Milhão de Famintos no Dia Mundial da Alimentação

16/10/2010 Sábado, Dia 16 de Outubro de 2010 as 11h:30
Um milhão de pessoas não tem o que comer no Dia Mundial da Alimentação, alerta FAOMiseria e fome atingem o Brasil
Os dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), pela primeira vez em 15 anos, indicam uma melhora no quadro geral da fome no mundo...

Maputo (Moçambique) – Em todo o mundo, 925 milhões de pessoas vão passar este dia 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, sem ter o que comer. O número é equivalente às populações somadas dos Estados Unidos (300 milhões), do Brasil (190 milhões), do Japão (130 milhões), da Alemanha (82 milhões), da França (63 milhões), do Reino Unido (60 milhões), da Itália (58 milhões) e da Espanha (40 milhões).

Os dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), pela primeira vez em 15 anos, indicam uma melhora no quadro geral da fome no mundo. Em 2009, 1,023 bilhão de pessoas eram consideradas famintas, 9,6% mais do que este ano.

Uma das causas para a redução é a queda dos preços dos alimentos nos mercados internacionais e nacionais iniciada em 2008. Para o representante da FAO em Moçambique, o uruguaio Julio de Castro, há outro fator a ser considerado: a oportunidade de negócio. “O comandante de um navio carregado de grãos recebe um telefonema: 'precisamos de 50 mil toneladas no Quênia.' O barco segue para lá e preço sobe ou desce. E ligam para ele de novo: 'pagam mais no Líbano'. E o barco muda a rota. É especulação, negócio. Não é questão de concordar ou discordar. Mas isso tem uma importância na distribuição [dos alimentos]."

Para a FAO, a produção mundial de alimentos precisa aumentar 70% para alimentar a população que o mundo terá em 2050, estimada em 9 bilhões de pessoas. Os governos devem investir mais na agricultura, expandir redes de segurança e programas de assistência social, reforçar atividades que geram renda para as áreas rurais e urbanas mais pobres e criar mecanismos adequados para lidar com situações de crise e proteger as populações mais vulneráveis.

A entidade também reforçou o pedido para participação na campanha Unidos Contra a Fome, que coleta assinaturas para chamar a atenção para o problema. A meta de um milhão de adesões foi alcançada um mês e meio antes do previsto, em novembro.

Fonte: por Eduardo Castro/EBC

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Saude Pública Pesquisa IG - Aborto causa 12 internações por hora

 

Em 2010, a cada hora foram 12 internações por interrupção provocada da gravidez

Fernanda Aranda, iG São Paulo | 08/10/2010 10:36

A interrupção da gravidez provocada  – sem ser a espontânea ou por motivos médicos – é um dos procedimentos que mais ocupa leitos dos serviços públicos e privados na área de saúde da mulher.
Nos seis meses primeiros meses de 2010 foram 54.339 internações por este tipo de ocorrência, uma média de 12 casos por hora.


Foto: Getty Images
Internações por aborto superam a soma de tratamentos para câncer de mama e útero
Os números registrados entre janeiro e julho são 41% superiores à soma de internações por câncer de mama e câncer de colo do útero (38.532), duas doenças consideradas pelos governos federais, estaduais e municipais como grandes desafios de assistência ao sexo feminino.
O assunto saiu do anonimato diário de muitas mulheres para virar tema político. Neste segundo turno das eleição presidencial, José Serra (PSDB) e Dilma Roussef (PT) pautaram suas agendas para falar sobre – ou evitar – o tema.

Custos
O levantamento, feito pelo Delas no banco virtual do Ministério da Saúde, mostra ainda os custos do aborto provocado considerado crime pela legislação brasileira. No período analisado, foram gastos R$ 12,9 milhões para internar mulheres com hemorragias, infecções ou perfurações desencadeadas após o procedimento realizado em clínicas clandestinas. Para chegar ao dado, a reportagem excluiu do mapeamento o total de internações por "aborto espontâneo" (66.903 registros em seis meses) e "aborto por razões médicas" (905). Só foi considerada a categoria "outras gravidezes que terminam em aborto".
“São dados que mostram como a criminalização e a manutenção do aborto na clandestinidade são ineficazes do ponto de vista da saúde”, afirma o médico Thomaz Gollop, diretor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e coordenador do Grupo de Estudo sobre o Aborto (GEA), que reúne médicos, psicólogos e juristas.
“Ainda que a legislação faça com que estas mulheres não possam ser atendidas incialmente nos hospitais (para a realização do aborto) elas chegam depois, machucadas e em estado grave de saúde. Em Pernambuco, o aborto é a principal causa de morte”, diz Gollop, ao explicar porque considera a legislação atual um contrassenso.

Outros números
Além das internações por interrupção provocada da gravidez, outros números conseguem mapear a extensão do aborto no Brasil. Quando o procedimento não é completo, as mulheres submetidas a ele precisam recorrer a alguma unidade de saúde para fazer a curetagem – sucção de restos da placenta, do embrião ou do feto.
Segundo um estudo divulgado pelo Instituto do Coração (Incor) – divulgado este ano – a curetagem é o procedimento hospitalar mais realizado no País. Em média, são feitas 250 mil por ano, em valores que superam R$ 30 milhões.

No banco de dados do Ministério da Saúde, as notificações mostram que as curetagens são numerosas também no sistema privado de saúde. Das 110.483 feitas nos seis primeiros meses de 2010, 45.847 foram em unidades particulares (41,4% do total).
“O que precisa ser levado em conta é a diferença entre a condição de saúde das mulheres que chegam às unidades privadas de saúde e das que chegam às públicas”, afirma Margareth Arrilha, diretora da Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR), ligada ao Centro Brasileiro de Análise de Planejamento (Cebrap).
Segundo ela, a experiência mostra que as pacientes da rede pública chegam com sequelas mais graves, em decorrência dos procedimentos mais inseguros, feitos em locais sem a menor garantia de higiene ou pela ingestão de medicamentos sem qualidade.

Remédios falsificados
De acordo com as pesquisas, seminários e levantamentos feitos pela CCR, metade dos abortos realizados no País acontece por meio do uso de medicamentos. Neste processo, avalia Margareth, o procedimento que já acontece de forma insegura fica ainda mais perigoso. “As drogas são adquiridas em camelôs ou produzidas em indústrias de esquina”, diz.
As operações realizadas este ano pelo Ministério da Justiça, em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram que 42% dos 700 estabelecimentos fiscalizados este ano (drogarias, farmácias, laboratórios e academias) vendiam medicamentos falsos, contrabandeados ou sem procedência duvidosa. No total, foram apreendidas 60 toneladas de cápsulas. Apesar de não existir um ranking da classe destas drogas clandestinas, é sabido pelos técnicos que participam das fiscalizações que os abortivos – ao lado dos usados para disfunção erétil – são os mais falsificados e os mais vendidos ilegalmente.

As mulheres
O Ipas – entidade não governamental que atua na América Latina em favor dos direitos reprodutivos da mulher – fez uma pesquisa para traçar um perfil das que compram estes remédios ou fazem aborto no Brasil. Em sua publicação “O impacto da ilegalidade do aborto na saúde das mulheres e nos serviços de saúde em cinco Estados brasileiros” uma enquete foi aplicada a 2.002 mulheres, de 18 a 39 anos.
Das entrevistadas, 15% declaram já ter feito um aborto alguma vez na vida. “Projetado sobre a população feminina do País nessa faixa etária, que é de 35,6 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número representaria 5,3 milhões de mulheres”, diz a publicação. Segundo o texto, o perfil é "de casadas, com filhos e religião".
O aborto é criminalizado no Brasil desde a legislação de 1940. No Sistema Único de Saúde (SUS) mulheres vítimas de violência sexual podem fazer o chamado aborto legal. A Igreja Católica e algumas alas da Evangélica recriminam a prática independentemente da circunstância da fecundação.
No ano passado, em Recife, uma menina de 9 anos, grávida de gêmeos após abusos do padrasto realizou o aborto legal. Na época, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, anunciou a excomunhão da garota, da mãe e dos médicos que atenderam a menina. O estuprador não foi excomungado. Pouco tempo depois, o presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Lyrio Rocha, anunciou que a intenção era apenas chamar a atenção para um fato relevante e que uma excomunhão não significa uma condenação eterna.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Causa da Demissão de Maria Rita Kehl- Comente Abaixo

Dois pesos...
02 de outubro de 2010

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.


Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.




Serra e FHC não podem voltar ao poder - Ciro Gomes

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Antes de reunião em Cancún, ONU diz que chegou momento de decidir sobre o clima

DA FRANCE PRESSE

A principal autoridade da ONU para o clima, Christiana Figueres, enviou nesta segunda-feira, em Tianjin (norte da China), uma mensagem urgente aos governos do mundo: "Vocês podem parar ou avançar, o momento das decisões chegou."

A secretária executiva da Convenção para o Clima das Nações Unidas (UNFCCC), fórum mundial de negociações criado em 1994 para examinar as mudanças climáticas, fez o alerta aos negociadores dos mais de 190 países reunidos para a abertura da última sessão de negociações antes da grande reunião de Cancún, México, que acontecerá de 29 de novembro a 10 de dezembro.
                                                                            
"Em Cancún vamos precisar de resultados concretos e urgentes", advertiu.

Quase um ano depois do fracasso relativo da conferência de Copenhague, a secretária costarriquenha afirmou que é necessário "restaurar a confiança na capacidade das partes para levar adiante este processo, para que o multilateralismo não seja percebido como um beco sem saída, para evitar que as divergências permanentes terminem como uma inação inaceitável".


 
Ela citou os pontos sobre os quais a reunião de Cancún pode tomar decisões, como um fundo de ajuda aos países mais vulneráveis ou a aplicação de um mecanismo para combater o desmatamento.

O acordo de Copenhague fixou a meta de limitar o aumento da temperatura do planeta a dois graus, mas sem calendário e de maneira evasiva sobre as modalidades para alcançar o objetivo.
"Peço que demonstrem flexibilidade e espírito de compromisso. Senhoras e senhores, é chegado o momento", concluiu a secretária.

Esta é a primeira vez que a China, um dos maiores poluentes do planeta, recebe uma conferência sobre o clima.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Pescador fica amigo de crocodilo na Costa Rica

28/09/2010 - 08h45

DA BBC BRASIL

Há 20 anos, o pescador Chito encontrou o crocodilo Pocho à beira da morte em um rio na Costa Rica. Hoje, são amigos praticamente inseparáveis.

Chito faz shows para turistas, nos quais conversa e brinca com o perigoso réptil de mais de cinco metros de comprimento como se fosse com um cão de estimação.

De acordo com o pescador, há duas décadas, mesmo contra a vontade do irmão, ele alimentou e tratou do animal ferido, que passou a não aceitar comida de mais ninguém.


Hoje, Chito conta que até dorme ao lado do bicho.
No início, ele ainda teria tentado soltar Pocho no rio, mas o animal sempre voltava.
Há quatro anos, amigos, impressionados com o relacionamento entre o pescador e o crocodilo, sugeriram que ele iniciasse essas apresentações para o público.
A ideia deu certo e hoje atrai turistas de vários países.